quarta-feira, 28 de julho de 2010

Este inferno de amar

Este inferno de amar – como eu amo! -
Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é vida – e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando, ai, quando se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez… – foi um sonho -
Em paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar…
Quem me veio, ai de mim, despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei… dava o sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? – Não o sei;
Mas nessa hora a viver comecei…

(Almeida Garret)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Música para os meus ouvidos

Entre conversas que por vezes já se tornam repetitivas, é frequente, a dada altura, dizerem-me, com ar triufante, como se tivessem encontrado a solução para todos os meus problemas "então pronto, aí tens a tua resposta".

Já a procuro há algum tempo. Provavelmente há mais tempo do que me consigo lembrar. Se calhar já a tinha dentro de mim mas não a via. Ou não tinha a coragem para a passar das palavras aos actos. Não é fácil, diga-se. Nunca o foi, nunca o será - por mais que a sociedade evolua. E mesmo aí, já não estarei aqui para o ver.

Às vezes sinto o peso do mundo nos ombros. Como se uma decisão minha pudesse, de algum modo, influenciar o futuro da humanidade. Ingenuidade.

E, por entre os muros que contruí à minha volta, no silêncio em que me coloquei, ela ressoa na minha cabeça.

Não é fácil estar no silêncio. É tão mais fácil ouvir o ruúdo e deixarmo-nos distrair, deixarmo-nos levar. Ouvir outras vontades que não as nossas. Tão mais simples, tão mais claras. Como quando queremos muito lembrar-nos daquela música que tanto gostamos, tentamos cantar só o refrão mas, a música que está a passar no rádio não deixa. Não conseguimos por mais que tentemos. Temos mesmo que apagar o rádio.

Foi isso que fiz. Apaguei o rádio. Oiço agora só a minha música. E ela começa agora a ressoar nos meus ouvidos vezes sem conta. A toda a hora. Ja nem consigo ouvir o rádio.

Só falta conseguir que a oiçam comigo.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Felicidade

Estou cansada de clichés. Daqueles que as pessoas nos repetem porque mais não conseguem dizer do que um conjunto de frases feitas que, um dia, também elas ouviram.

Não me interpretem mal, sei que as dizem com boa intenção e nem sequer tenho moral para duvidar da sua veracidade, mas aquilo que é verdade para uns, não o é para outros. Lá diz o ditado: quem está dentro do convento, é que sabe o que lá vai dentro.

E cá dentro, só eu sei o que vai. Embora pouco claro, é certo. Sentimentos, pensamentos e opiniões formam um emaranhado tal que fica difícil deslindar a minha verdade.

Mas há uma frase, talvez cliché também, que tem sido a única que me faz algum sentido: descobrir o que me faz feliz. Parece simples, não? Talvez mas, como tudo na vida, não há apenas preto e branco, há toda uma panóplia de gradações de cinzento pelo meio. E não é fácil descobrir qual nos serve.

Mais se torna difícil quando a nossa felicidade não depende só de si mesma. Sim, porque a nossa felicidade também depende da felicidade de quem nos rodeia, de quem amamos e queremos bem - felizes. Todos nós ficaremos um pouco mais felizes se a nossa melhor amiga casar, ou a nossa colega do trabalho for mãe. Assim como é um pedaço da nossa felicidade a menos quando as vemos chorar.

Partindo deste pressuposto que, para mim, está mais do que claro, como podemos nós escolher aquilo que nos faz feliz, como podemos nós escolher aquele cinzento que nos serve que nem uma luva, quando esse mesmo cinzento, essa mesma escolha vai diminuir a felicidade daqueles a quem amamos?

Se a nossa felicidade é também resultado da felicidade daqueles a quem queremos felizes, como pode uma escolha que os faz infelizes trazer-nos felicidade?

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Interrogação

Neste tormento inútil, neste empenho
De tornar em silêncio o que em mim canta,
Sobem-me roucos brados à garganta
Num clamor de loucura que contenho.

Ó alma de charneca sacrossanta,
Irmã da alma rútila que eu tenho,
Dize pra onde vou, donde é que venho
Nesta dor que me exalta e me alevanta!

Visões de mundos novos, de infinitos,
Cadências de soluços e de gritos,
Fogueira a esbrasear que me consome!

Dize que mão é esta que me arrasta?
Nódoa de sangue que palpita e alastra...
Dize de que é que eu tenho sede e fome?!

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Pergunta do dia

Será que aquilo que queremos é realmente o que queremos ou aquilo que os outros pensam, e nos dizem, que devíamos querer?

Até que ponto somos influenciados por quem nos rodeia nas nossas escolhas? E sendo, até que ponto devemos deixar-nos influenciar? Porque, se é natural do homem, enquanto ser social, procurar a sua aceitação, a aceitação social das suas vontades e decisões, quanto daquilo que decidimos é o queremos e quanto é aquilo do que querem por e para nós?

Quando acaba a nossa liberdade de escolha e começa o respeito, o amor e a necessidade de não desiludir aqueles a quem amamos?

Quantos não afirmam convictamente "quem gostar de mim, tem de gostar como sou". E quantos não passam das palavras aos actos e se deixam vergar às expectativas pré-impostas. Até que ponto estão elas enraizadas na nossa mente, ao ponto de já não sabermos se são nossas ou de alguém.

PS: Era uma. Saíram várias - será sintoma?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Para ti



PARABÉNS!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Caixas e caixinhas

Senta-se. Inspira profundamente como que a ganhar coragem para olhar para tudo aquilo mais uma vez. Memórias, recordações, pedaços de um tempo que passou.

Está tudo ali, ainda espalhado, ainda à vista. Ainda não teve coragem de arrumar tudo numa caixa e fechá-la. Olha em volta e pergunta-se se alguma vez terá. Mas já abriu a caixa. A caixa que está à espera. Vazia, ainda.

Cada uma daquelas coisas conta uma história. Não, muito mais do que uma história. Fecha os olhos e lembra-se. Inspira novamente o perfume daqueles objectos que ainda têm o cheiro do passado.

De repente, odeia a palavra história. Porque é essa a palavra que relega tudo aquilo que gosta para um passado. Uma passado que passou e que não tem volta. Na sua cabeça um turbilhão de pensamentos: porquê, quando, onde como? Pergunta-se. Onde foi que aquela história que um dia sonhou contar aos seu filhos, de peito aberto e orgulhoso, ficou? Onde foi que se escreveu a palavra fim? Não consegue encontrar a página. E não consegue fechar o livro.

Pega naquele pedaço de papel. Lê e relê. As lágrimas caem-lhe enquanto procura concentar-se numa respiração que se desalinhou à velocidade dos seus pensamentos.

Não ouve nada. O mundo à sua volta está vazio. Está num lugar do nada. E ali, no meio daquelas linhas, por entre aquelas palavras encontra aquela que há muito não ouvia: mimó. Era assim que lhe chamava. E mais uma vez tenta lembrar-se de quando foi que aquela palavra se apagou.

Não encontra. Não encontra o momento. Não encontra a página.

E o livro continua aberto. À espera de mais linhas. De mais história. E os objectos continuam ali. Espalhados. Como se sempre ali estivessem estado. Como se nunca dali fossem sair.

Fecha a caixa. Não, não é hoje.

domingo, 4 de julho de 2010

Gotas de sal

Nervos à flor da pele - acho que é essa a expressão.

Mas porque será que sempre que estamos assim teimamos em ouvir aquelas musicas corta pulsos que em qualquer outra altura seriam motivo de piadas; ou insistir em ver um filme dramático, que até já sabemos que vai acabar mal, para acabarmos de lenço na mão e a fungar continuamente? Aquele que é o chamado período de "ressaca" tem mesmo que ter lágrimas, coração acelerado e respiração incerta?

Porque será que não pode ser apenas um período de reflexão, de nós para nós, mas sem a sensação de que estamos com TPM há um tempo maior do que a mãe natureza previu?

Ou será que a necessidade chorar é tanta, como se assim toda a dor se fosse, quase como um alivio, uma forma de expurgar tudo o que nos está a fazer sofrer, que nos expomos conscientemente a isso? Só para aliviar mais um bocadinho...

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Hábitos

Há hábitos que se enraizam de tal modo que, a dada altura, já não sabemos se os fazemos por realmente queremos ou por mera rotina.

Desde pequena que o meu pequeno almoço sempre foi uma bela caneca de café com leite e torradas com manteiga. Venha quem vier, esteja onde estiver, faça chuva ou sol, todos os dias, aqueço o meu café e faço as minha torradas.

Mas hoje, quero outras coisas, já não me apetece todos os dias o mesmo. Mesmo que isso implique não saber se vou gostar ou não, se me vai dar o mesmo conforto que uma caneca de café quente ou a segurança de umas torradas que sabem sempre bem.

Decidi arriscar e mudei os meus hábitos - agora tenho mais variantes. Sumo de fruta e pão fresco com requeijão, ou um iogurte com cereiais acompanhado de fruta.

A verdade é que me tem sabido bem. E a cafeteira de café lá continua, à espera que a volte a chamar à minha vida.

Sei que gosto do café e das torradas, e hei-de gostar sempre, mas... todos os dias? É sempre igual, sabe sempre ao mesmo, não há novidade ali. Como ansiar sempre por um pequeno-almoço que não me traz surpresas?

Ainda assim, sinto falta do café... do café quente, que me dava o conforto e segurança de ser sempre igual, aquilo que eu espero e preciso: acordar.