terça-feira, 6 de julho de 2010

Caixas e caixinhas

Senta-se. Inspira profundamente como que a ganhar coragem para olhar para tudo aquilo mais uma vez. Memórias, recordações, pedaços de um tempo que passou.

Está tudo ali, ainda espalhado, ainda à vista. Ainda não teve coragem de arrumar tudo numa caixa e fechá-la. Olha em volta e pergunta-se se alguma vez terá. Mas já abriu a caixa. A caixa que está à espera. Vazia, ainda.

Cada uma daquelas coisas conta uma história. Não, muito mais do que uma história. Fecha os olhos e lembra-se. Inspira novamente o perfume daqueles objectos que ainda têm o cheiro do passado.

De repente, odeia a palavra história. Porque é essa a palavra que relega tudo aquilo que gosta para um passado. Uma passado que passou e que não tem volta. Na sua cabeça um turbilhão de pensamentos: porquê, quando, onde como? Pergunta-se. Onde foi que aquela história que um dia sonhou contar aos seu filhos, de peito aberto e orgulhoso, ficou? Onde foi que se escreveu a palavra fim? Não consegue encontrar a página. E não consegue fechar o livro.

Pega naquele pedaço de papel. Lê e relê. As lágrimas caem-lhe enquanto procura concentar-se numa respiração que se desalinhou à velocidade dos seus pensamentos.

Não ouve nada. O mundo à sua volta está vazio. Está num lugar do nada. E ali, no meio daquelas linhas, por entre aquelas palavras encontra aquela que há muito não ouvia: mimó. Era assim que lhe chamava. E mais uma vez tenta lembrar-se de quando foi que aquela palavra se apagou.

Não encontra. Não encontra o momento. Não encontra a página.

E o livro continua aberto. À espera de mais linhas. De mais história. E os objectos continuam ali. Espalhados. Como se sempre ali estivessem estado. Como se nunca dali fossem sair.

Fecha a caixa. Não, não é hoje.

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